Capitulo 2

Vamos Trabalhar

Assim que o sol começa a iluminar o quarto de Nanah, a mesma abre os olhos com preguiça, ela até cogita fechar as cortinas e voltar a dormir, porém ela escuta uma comoção vindo de algum cômodo do apartamento.

Ela suspira e levanta da cama, se espreguiça, sentada na cama ela procura com os pés suas pantufas, assim que encontra encaixa em seus pés e então sai do quarto. Ela ia andando pelo apartamento guiada pelo barulho que escutava.

Assim que chega na cozinha, ela vê uma discussão acalorada entre a Andry e o Lixo, o motivo da discussão não era claro, então Nanah resolve observar para entender.

- Eu falei que era a sua vez de lavar a louça, você é incapaz de colocar a louça na máquina e ligar? É tão difícil isso para você? – Andry reclamava.

- Eu estou falando que eu fiz isso, esse negócio que não funcionou. – Lixo se justifica.

- Ah, claro! Culpe a lava louça mesmo pela sua incompetência. Enfim, trate de lavar a louça agora, eu não sou obrigada a fazer café da manhã no meio dessa bagunça.

- O que custa só pegar as coisas limpas no armário e depois lavar tudo junto?

- Você não foi capaz de lavar uma leva de louça, eu não tenho esperança que você consiga fazer isso para duas levas de louça.

- Você me arrancou da cama para isso? Eu não vou lavar a louça agora, se vira, eu vou voltar para cama. – Lixo dá de ombros e vira para sair andando.

- Ah, mas você não vai mesmo. – Andry segura o rabo de Lixo e começa a puxar.

- Aí, aí, aí... me larga sua louca! – Lixo esperneia sendo puxado pelo rabo.

- Vai lavar a louça sim, nem que eu use você de esponja!

Os dois começam uma briga física bastante desajeitada. No meio da briga eles acabam derrubando um prato, Nanah que ainda estava sonolenta se assusta com o barulho do prato quebrando no chão.

- CHEGA! – King passa por Nanah e vai até os outros dois. – O que é preciso para um dinossauro conseguir dormir nessa casa?

- É culpa do Lixo. – Andry larga o rabo do Lixo.

- Ela é louca, me acordou para lavar a louça, só porque eu esqueci ontem. – Lixo se justifica enquanto arrumava seus pelos bagunçados pela briga.

- Então você admite que esqueceu. – Andry resmunga.

- Nossa, conviver com vocês dois é um castigo pior que ir para o inferno. – King fala irritado.

- Vocês não sabem nada do inferno. – Akachi fala surpreendendo a todos com sua presença.

- Hu? – Todos encaram o anjo na porta da cozinha ao lado de Nanah.

- Desde quando você está aí? – Nanah pergunta surpresa. – A propósito, você também não sabe nada do inferno.

- Engraçadinha. – Akachi fala irônico. – Não cheguei a muito tempo, é impossível dormir nessa casa com esses três discutindo.

- Atrapalhamos o sono do ser angelical... – King diz de forma sínica.

- Se não está feliz, pode ir embora. – Andry fala arrogante.

- Exatamente. – Lixo enfatiza.

- Vocês não estavam brigando até agora? Como podem mudar tão rapidamente? – Akachi se surpreende.

- Já que você acordou, lave a louça. – Nanah fala tranquila e vira para ir até a sala.

- Espera, eu? – Akachi arregala os olhos e aponta para si mesmo.

- Sim, você não é visita aqui, então se vai morar com a gente é bom ir se acostumando.

Os três demônios sorriem satisfeitos, eles começam a sair da cozinha, cada um passando por Akachi esboçando uma postura travessa e sorridente, Andry que foi a última sair, joga em Akachi o pano de prato.

- Aff! – O anjo suspira ao perceber que não iria mudar aquela situação.

Na sala, Nanah senta no sofá e pega um notebook que estava largado na mesa de centro, ela abre o notebook e começa a dar atenção ao conteúdo. Os três demônios se juntam a ela na sala.

- Algum caso interessante para nós? – Nanah pergunta sem tirar os olhos da tela do notebook.

- O King separou alguns interessantes. – Andry responde.

- Eu separei em uma planilha, está salva aí do lado. – King aponta na tela o ícone da planilha.

- Bastante organizado. – Nanah se surpreende conferindo a planilha.

- Os números de casos no site aumentaram bastante nos últimos anos, as pessoas querem vingança por qualquer coisa. – Lixo comenta.

- O que é isso aqui? – Nanah olha uma parte da planilha. – Frequência?

- Tem pessoas que entram no site, escreve tudo, mas não envia, porém a pessoa faz isso com frequência. – Andry explica.

- Hum... – Nanah observava a planilha. – Só vai? O que seria isso?

- Casos que são fáceis, é um caso só de ida para o inferno mesmo. – Lixo responde.

- Por isso estão todos resolvidos. – Nanah comenta. – Hu? – Nanah percebe que a planilha atualizou sozinha. – O que aconteceu?

- Deixa eu ver. – King pega outro notebook e vai checar o que tinha acontecido. – Ah, um caso de frequência, a pessoa finalmente enviou.

- Interessante, eu quero ver esse caso. – Nanah fala.

- Só clicar aqui, que abre o caso que a pessoa escreveu. – King orienta.

“Eu fui um bom filho, uma boa pessoa, eu estudei, fui educado e diligente, sempre me esforcei para dar o meu melhor, eu nunca esperei uma vida fácil, acreditei que o trabalho duro seria o suficiente para me trazer um bom resultado, então nunca tive preguiça. Então por que estou passando por isso? Eu me esforcei e estudei muito para conseguir esse estágio, essa era a empresa que eu sempre quis trabalhar, então por que preciso ser tratado dessa forma? Eu não quero, não acho justo desistir dos meus sonhos, mas meu gerente está tornando tudo isso insuportável para mim. Eu preciso de ajuda, eu quero vingança, eu quero justiça.”

Nome do alvo: Masato.

- Interessante... – Nanah termina de lê e se mostra interessada.

- Hum... o nome do cliente é Hiroshi, ele tem vinte e cinco anos, ele trabalha em uma empresa de jogos em Tóquio. – Andry completa.

- Como é que vocês sabem quem enviou se vocês não pedem informações pessoais? – Akachi surge na sala curioso.

- Não precisamos, quando a pessoa acessa o site é como se ela deixasse registrada sua presença com sua própria energia. – Lixo responde. – Essa é a mágica do nosso site.

- Era mais fácil só a pessoa deixar nome e endereço. – Akachi comenta.

- Não, pessoas que buscam vingança muitas vezes tem vergonha de seus desejos, mantê-las em sigilo é uma forma de dar liberdade a elas. Não estamos aqui para julga-las, o mundo já faz isso por nós. – Nanah explica de forma calma. – Eu gostei desse caso, vamos trabalhar. – Ela fecha o notebook e levanta do sofá.

- Vamos lá. – King fala animado. – Nosso primeiro caso com a chefe depois de muito tempo, vai ser legal.

- Eu acho perda de tempo. – Akachi fala discreto.

- Por que? – Lixo encara o anjo.

- Pelo texto, esse tal de Hiroshi parece ser uma boa pessoa, ele não vai aceitar o contrato de vocês. – O anjo responde com certa certeza.

- Inocente. – Andry balança a cabeça em negação.

- Eu inocente? – Akachi reage indignado. – Eu existia antes da sua primeira ancestral cogitar existir.

- Com todo esse tempo e ainda é inocente assim? Se não fosse um anjo iria virar estatística nossa, certeza. – Lixo fala debochado.

- Está insinuando que eu iria procurar pelos serviços de vocês? Não me faça rir. – Akachi ri incomodado.

- Chega vocês. – Nanah suspira. – Akachi por que não vem com a gente? – Os três demônios arregalam os olhos e encaram Nanah.

- Isso não me parece uma boa ideia. – Andry fala em voz baixa e receosa.

- Eu também acho que não é boa ideia, levar um anjo... – King fala duvidoso.

- Eu não trabalho com anjos, de jeito nenhum, sem chance. Ele vai querer salvar todo mundo com a palavra divina dele e a gente que vai se ferrar. – Lixo protesta.

- O Akachi não vai se envolver, ele nunca se envolve no mundo mortal, ele vai observar, já que você quer ficar aqui com a gente, o que na minha cabeça não tem sentido, ao menos é uma boa oportunidade de ele conhecer nosso trabalho. – Nanah explica de forma calma.

- “Trabalho”. – Akachi ri. – Tudo bem, eu vou.

- Ok, mas fique o aviso, não ouse interferir, eu já vi muitos juízes caírem, não quero ver você cair por bobagem. Eu não vou te proteger. – A juíza encara o anjo de forma séria.

- Não se preocupe, eu sei muito bem o meu lugar, o seu também. – Akachi não se intimida pela postura de Nanah. – Sem mencionar que eu duvido que esse Hiroshi faça o contrato.

- Muito bem então, vamos todos. – Nanah fala saindo da sala.

- Ei, você quer apostar com a gente? – Lixo encara Akachi de forma maliciosa.

- O que? Apostar?

- É, fazer uma fezinha, se vamos ou não realizar um contrato nesse caso. – King sorri com segunda intenções.

- Aí pelo amor de Deus. – Akachi balança a cabeça em negação e sai andando atrás de Nanah.

- O que foi? – Lixo encara os dois amigos sem entender e King apenas dá de ombros.

- Vocês são burros? Querem convencer um anjo a apostar? Nossa, me pergunto se vocês foram alfabetizados. Que horror, eu convivo com dois idiotas. – Andry resmunga e deixa o demônio e o dinossauro sozinhos.

- Grossa, ignorante. – Lixo faz beicinho. – Qual o problema em apostar, é pecado?

- Deve ser, acha que eu sei de coisas de anjo? Enfim, vai ou não apostar? – King encara o Lixo.

- Apostar como se nós dois iriamos apostar na mesma situação? Ou você iria apostar que a gente não consegue o contrato?

- Claro que não! É óbvio que a gente consegue o contrato. – O dinossauro responde.

- Então idiota. – Lixo balança a cabeça em negação. – Realmente é um idiota.

- Vai se foder!

- SE VOCÊS NÃO VIEREM EU VOU DEIXA-LOS AÍ. – Nanah fala do outro cômodo do apartamento.

Os dois demônios aceleram o passo e se juntam ao grupo, em um piscar de olhos eles são transportados para Tóquio.

Lixo, King e Andry permaneciam com suas formas, porém nenhum humano podia vê-los, como demônio criados por outro demônio eles não tinham poder o suficiente para ter uma forma humana, eles apenas podiam usar seus poderes para ocupar, temporariamente, o corpo de um humano, era assim que eles trabalhavam quando estavam sozinhos.

Depois de analisar o caso, eles pegavam um corpo emprestado para oferecer o contrato, uma vez que a pessoa aceita o contrato eles podiam dispensar o corpo emprestado e usar seus poderes para realizar a vingança.

Diferente dos juízes, que eram criaturas mais poderosas, os dois podiam apenas esconder suas características não humanas e se misturar normalmente entre os humanos. Akachi escondia suas asas e sua auréola, Nanah, escondia seu rabo, orelhas e asas.

- Vou sentir falta das minhas orelhas. – Nanah comenta colocando a mão na cabeça.

- Sempre quis saber, por que você tem orelhas e rabo de gato? Você é um demônio, não um gato. – Akachi comenta.

- Eu deveria ter chifres e um rabo de demônio, mas optei por acessórios diferentes, sinceramente, acho que chifre não combina comigo e outra, você não acha meu rabo bem mais bonitinho sendo peludinho?

- Que conversa estranha. – King comenta.

- Prefiro não responder. – Akachi faz careta.

- Eu hein, vocês levam tudo na malícia. – Nanah faz beicinho. – O King não me surpreende, mas você sim Akachi, você é um anjo, não deveria ter esses pensamentos.

- Eu sou um anjo, não um tapado lerdo. – O anjo responde. – Enfim, como vocês trabalham?

- Geralmente nós observamos a pessoa por um tempo. – Andry explica.

- Quero um resumo da vida pessoal do Hiroshi, vai você Lixo. – Nanah dá a ordem.

- Ok! – Lixo desaparece.

- Nós vamos até a empresa, afinal parece que o que motivou o pedido do Hiroshi acontece dentro do seu ambiente de trabalho. – Nanah fala olhando para um prédio gigante em sua frente.

- Como vocês vão entrar lá? – King pergunta. – A gente não é visto, mas vocês são...

- A gente pode ser invisível também se quisermos...

- Não precisa. – Nanah interrompe. – Vamos entrar como novos funcionários, com um pouco de engenharia social a gente nem precisa usar nossos poderes. – Ela estala os dedos e faz dois crachás aparecerem, um com a foto dela e um com a foto do Akachi.

- Achei que não iriamos usar poderes. – Akachi resmunga.

- Quer ir em gráfica? Fica à vontade. – Nanah encara o anjo.

- Não, estou bem com esse pequeno truque. – Akachi coloca o cordão do crachá em volta do pescoço. – Ficou bom em mim.

- Cuidado, vaidade pode ser pecado. – Andry pisca charmosa e sínica para o anjo.

- Seria uma pena o anjo perder as asas. – King ri maldoso.

Akachi faz careta para os dois demônios, o anjo então ignora as provocações deles e vai andando ao lado de Nanah para dentro do prédio. Eles param no hall do prédio e veem em que andar ficava a empresa de jogos que Hiroshi e Masato trabalhavam, assim que encontram a informação se dirigem até o elevador.

O prédio inteiro era de empresas de variados setores da indústria, então toda área comum era tomada por funcionários que trajavam roupas sociais, crachás e fisionomias sérias. O ambiente coorporativo não era um ambiente descontraído, cada pessoa ali sabia que não podia relaxar, porque fora dali existiam muitas outras pessoas que disputariam sua vaga.

Porém, mesmo dentro de um ambiente competitivo e responsável era possível ver pessoas que conseguiam lidar bem com aquilo, formando amizades e momentos agradáveis em meio a toda responsabilidade.

Chegando no andar da empresa, eles entram e uma funcionária que estava atrás de um grande balcão os encara, nunca tendo visto os dois juízes ela cogita questiona-los, até que Nanah rapidamente mostra o crachá de forma tranquila e casual.

- Ah, vocês devem ser os novos estagiários. – A mulher sorri simpática.

- Isso. – Nanah confirma e retribui o sorriso.

- Podem vir por aqui, o gerente Masato vai ter uma reunião com todos para dar as instruções, depois algum funcionário vai mostrar suas mesas e orienta-los em suas tarefas. – A mulher guia os dois pelos corredores da empresa.

- O anjo todo metido é estagiário. – King comenta rindo.

- Aff. – Akachi responde.

- O que foi? – A mulher vira para Akachi. – Disse alguma coisa?

- Não, não disse nada. – Akachi sorri para disfarçar.

- Ok, é por aqui, podem entrar e se sentar, logo os outros chegam, tem bebidas ali em cima, fiquem à vontade. – A mulher deixa os dois na sala e sai.

- Se controla, só a gente pode vê-los e ouvi-los, se não quiser parecer esquizofrênico é bom se controlar. – Nanah repreende o anjo.

- Devia falar isso para eles, não para mim. – Akachi dá de ombros.

- Eu não ligo de fazer o anjo passar por doido, muito pelo contrário, vou achar isso incrível. – Andry fala sorrindo travessa.

- Está vendo Nanah, são eles que provocam. – Akachi aponta para os dois demônios que riam.

- Nossa. – Nanah suspira.

Não demora muito e mais algumas pessoas entravam na sala, eles os cumprimentavam de forma tímida e buscavam um lugar para sentar. Depois de um tempo entrou um homem com uma fisionomia cansada e com uma postura cabisbaixa.

- Nanah, esse é o Hiroshi. – Andry comenta em voz baixa para Nanah.

Akachi e Nanah apenas observam Hiroshi de forma discreta, ele não parecia ter nada de especial, no geral não se destacava por nada, nem por qualidade ou defeitos, uma pessoa comum. O anjo podia perceber que Hiroshi não era uma pessoa má, já Nanah via em Hiroshi uma pessoa bastante instável.

Depois que todos estavam sentados, um homem com um físico robusto, um pouco acima do peso, entra na sala de forma bastante barulhenta e chamativa. Ele tinha um olhar diferente dos demais, era visível sua arrogância e seu senso de superioridade.

- Esse é o Masato. – King comenta discreto.

- Muito bem, já estão todos aqui, se alguém estiver atrasado pode voltar para casa, nessa empresa não precisamos de pessoas que fazem corpo mole. – Masato fala firme.

O gerente olha rapidamente para todos os estagiários ali, ele encara por um tempo Nanah e Akachi, os dois percebem esse interesse rápido, mas logo em seguida Masato encara Hiroshi com um sorriso desdenhoso.

- Muitos rostos novos, já outros nem tanto. – O gerente fala com certa arrogância. – Vocês foram escolhidos e agora tem uma oportunidade de ouro de trabalharem em uma das maiores empresas de jogos do Japão, deviam agradecer por essa oportunidade, ela não é para qualquer um. Ao final do estágio apenas os melhores serão efetivados, para serem efetivados é bem simples, mostrem trabalho duro, dedicação e o mais importante, me impressionem. A promoção de vocês está cinquenta por cento na mão de vocês e cinquenta por cento na minha, então vamos colaborar juntos, me ajudem a ajudar vocês.

Depois dessas palavras um pouco arrogantes e intimidadoras, o gerente explicou alguns detalhes da empresa e também orientou sobre algumas atividades dos estagiários. Em toda a reunião era possível perceber a personalidade esnobe do gerente, porém essa postura não seria o suficiente para ele ser alvo de uma vingança, ou seria?

Quando a reunião acabou, o gerente guiou todos os estagiários para um escritório espaçoso e com muitas mesas e computadores, os funcionários que ali trabalhavam ficaram de pé rapidamente quando viram o gerente.

Masato começou a dizer alguns nomes dos funcionários, distribuindo os estagiários entre os funcionários. Para surpresa de Akachi, ele ficou na mesma equipe que Hiroshi, então rapidamente Nanah olhou para King, o dinossauro entendeu e prontamente acompanhou Akachi.

Nanah e Andry ficaram juntas e foram para outra equipe.

- Oi, muito prazer, eu sou Yuki, prazer em conhece-los, eu sou o coordenador da equipe de edição de marketing, vocês deram muita sorte, nossa equipe deve ser a melhor equipe da empresa, não acham? – Yuki sorri e encara os outros funcionários que riem simpáticos.

- Com toda certeza. – Uma funcionária concorda. – Inclusive, acho que devemos ir comemorar a chegada dos novos estagiários no fim do expediente, o que acham?

- Ótima ideia, é uma forma da gente poder se conhecer de forma mais tranquila, vocês querem ir comer alguma coisa específica? – Yuki pergunta aos estagiários.

- Pizza! – Um estagiário responde rapidamente.

- Maravilha, boa escolha, você faz a reserva? – Yuki encara a funcionária que concorda com a cabeça. – Perfeito, agora deixa eu mostrar onde vocês vão trabalhar e quais tarefas vão realizar.

A equipe de marketing parecia uma equipe bastante receptiva, com um coordenador simpático e gentil e com funcionários prestativos. No geral Nanah percebia que o clima da equipe se destacava um pouco das demais.

Na hora do almoço, Nanah encontrou com Akachi e King. O grupo se distanciou para ter um pouco de liberdade.

- E aí, como é a sua equipe? – Nanah pergunta.

- Um caos. – Akachi responde parecendo cansado. – Nosso coordenador não tem paciência nenhuma, os outros funcionários mal falam com a gente, só o necessário, eu entendo que equipe financeira tenha muita responsabilidade, mas nossa, não mata ser minimamente gentil. E a sua?

- A equipe de marketing é bem legal, são gentis e simpáticos. – Nanah responde.

- Deu sorte então. – Akachi suspira e bebe um gole de café.

- King como Hiroshi trabalha? – A juíza pergunta.

- Ele é estranho, bastante inseguro, sinceramente, um pouco cansativo, ele não tem confiança e parece ter muito medo de cometer erros ao mesmo tempo que ele parece sentir raiva. – O dinossauro explicava. – Eu acho que ele tem uma personalidade muito passiva com toque de agressividade enrustida.

- Ele é cuidadoso, quer fazer um bom trabalho, isso não pode ser considerado errado, muito pelo contrário. – O anjo fala.

- Sim, mas dentro de uma empresa grande, essa passividade pode ser considerado um defeito, o mundo coorporativo é feito de atitudes, uma pessoa sem atitude inevitavelmente acaba ficando para trás ou sendo apenas um peso morto. – Andry responde.

- Sem mencionar que seres humanos muito passivos acabam sendo alvo de humanos manipuladores a aproveitadores, talvez seja esse o caso aqui. Porém, eu ainda quero saber porque, exatamente, o gerente Masato é o alvo do Hiroshi. – Nanah fala pensativa.

- Talvez o Lixo descubra alguma coisa. – King comenta.

- Por que mandou o Lixo checar a vida pessoal do Hiroshi? Sinceramente, isso parece um trabalho mais minucioso e o Lixo me parece ser bastante desequilibrado. – Akachi observa.

- O Lixo é desequilibrado, mas é muito bom em descobrir os segredos das pessoas, em vida foi um aproveitador e um manipulador de primeira, sem usar poderes, apenas com suas habilidades mortais ele conseguiu usar e tirar vantagem de muitas pessoas. Não tem nada que aquele demônio não descubra quando ele tem um alvo. – Nanah explica.

- Você fala isso com um orgulho muito estranho, um ser desse eu nem me daria o trabalho de defender, deixaria ir para o inferno sem pensar duas vezes. Imagina quantas vidas ele não prejudicou? – O anjo fala inconformado.

- Inúmeras vidas, por isso eu fui atrás dele, para mim ele é maravilhoso, o melhor entre os piores, assim como os dois aqui. – Nanah aponta para King e Andry que esboçam sorrisos orgulhosos. – Eu só trabalho com seres interessantes.

- Você trabalha comigo. – Akachi encara a juíza.

- É, você é uma exceção. – Nanah sorri travessa. – Nem tudo pode ser perfeito.

O anjo apenas balança a cabeça incrédulo com aquela narrativa. Ele não tinha interesse e muito menos via beleza pela maldade, algo que ficava nítido que sua colega de trabalho, Nanah, via. Ela não apenas via tudo isso com bons olhos, como de certa forma incentivava, já que, de certa forma, tinha promovido aqueles três seres humanos pecadores em demônios.

Se ser um demônio era uma promoção ou um castigo, o anjo não conseguia escolher, porém para ele toda alma pecadora merecia o inferno, aqueles três conseguiram escapar do inferno graças a Nanah, que era a juíza demônio e portadora da chave para o inferno.

Akachi não aceitava muito bem a existência daqueles três demônios.

/

O horário de almoço acabou e eles voltaram a trabalhar, no final do expediente, a equipe de marketing foi até a pizzaria para sua confraternização.

- Nanah, me diz em que planeja se especializar depois do estágio? – Yuki puxa assunto.

- Eu? Hum... gerenciamento de pessoas?

- Ah, você quer ir para a área de recursos humanos, legal. É uma área muito legal também, lá as pessoas precisam ser tão comunicativas quanto na nossa de marketing, mas não vai achar ruim se eu tentar convence-la a ficar com a gente, não é?

- Nem sei se serei efetivada...

- Com toda certeza será, o gerente Masato sempre efetiva os estagiários da nossa equipe. – Yuki responde com naturalidade enquanto bebia um pouco de sua cerveja.

- Existe distinção de equipes? – Nanah pergunta disfarçando sua desconfiança.

- Declaradamente não, mas eu posso te dizer que um pouco sim.

- O que tem para me dizer sobre a equipe de finança?

- Ah, aquela equipe é complicada, a maioria dos estagiários vem para empresa pensando em trabalhar com jogos e coisas mais dinâmicas, porém quando acabam na equipe de finança geralmente são despreparados. – Yuki explicava. – Isso acabou causando alguns problemas e hoje em dia os membros daquela equipe preferem nem dar atenção aos estagiários, afinal nenhum ali é efetivado.

Depois de mais conversas com todos da equipe, a confraternização finalmente acaba, então Nanah e Andry se teletransportam de volta para o apartamento deles, lá eles encontram com todos.

- Se divertiram? – Lixo pergunta.

- Sim, eu até consegui comer pizza, estava ótima. – Andry se gaba.

- Sorte a sua. – King resmunga.

- O que descobriu Lixo? – Nanah senta no sofá.

- O Hiroshi é filho único, perdeu o pai quando estava no colegial, mas sua família tem uma condição financeira boa, sem luxos, mas nunca passaram necessidade. A mãe dele parece ter muito orgulho do filho trabalhar em uma grande empresa, ela se gaba para as amigas de forma educada e até discreta. – Lixo falava tudo com detalhes. – Na escola ele passou longe de ser popular, mas tinha um ou outro amigo, o suficiente para ter uma vida escolar normal, mas eu percebi que ele sempre foi bastante tímido e inseguro, nunca se declarou para a garota que ele gostava por exemplo. Na faculdade foi igual, eu diria que ele é bastante estatística.

- Por que ele sempre sonhou em trabalhar naquela empresa? – Nanah pergunta.

- Como que ele vai saber disso? – Akachi questiona.

- É o Lixo. – King e Andry respondem ao mesmo tempo.

- Eu hein. – O anjo faz uma careta desdenhosa.

- Enfim, eu sei, na universidade o foco dele foi se especializar como artista digital, ele é um artista mediano, nada surpreendente, mas é dedicado, então posso dizer que o sonho dele era entrar nessa empresa para fazer parte da equipe de criação. – Lixo responde.

- Viu? – King encara o anjo esse que apenas dá de ombros.

- Então temos um artista que foi parar na equipe de finança... – Nanah fica pensativa.

- Na confraternização eu escutei de uma funcionária que o gerente Masato toma decisões bastante duvidosas. – Andry comenta. – Por exemplo, elas disseram que você Nanah só foi parar na equipe de marketing porque é bonitinha, o gerente sempre faz isso para causar uma boa impressão nas reuniões com investidores, o que explica porque todos na equipe de marketing são mais bonitos.

- Está me chamando de feio? – Akachi encara a dragão.

- Você? Tanto faz. – A dragão responde indiferente.

- Parece que o gerente controla para que ninguém ali se sobressaia a mais do que ele permite. – Nanah fala pensativa. – Como qualquer ser humano de índole duvidosa, ele deve querer manter o controle dele de alguma forma, ou seja, ele pode ter visto em você Akachi um tipo de ameaça, nós não somos humanos e mesmo disfarçado de humanos, nós não conseguimos esconder nossa aura superior, eu como mulher fui taxada só como “bonitinha”, não me admira esse Masato ser machista nas horas vagas.

- Concordo. – Andry enfatiza. – Eu fui pesquisar e descobri que existem algumas queixas de assédio contra o gerente Masato no departamento de recursos humanos, mas a maioria das funcionárias ou pediram demissão ou mudaram de departamento, tudo isso depois de receber uma indenização para ficarem caladas.

- Mesmo que a dificuldade do Hiroshi seja evidente, ainda não vejo o que motivou ele a ir buscar vingança. Todo mundo tem dificuldade, ele só está tendo dificuldade. Não acham exagerado? – Akachi questiona.

- Não estamos aqui para julgar isso, só precisamos saber em quais pecados o Masato se encaixa para podermos oferecer um contrato para o Hiroshi, se ele vai ou não aceitar, aí é com ele. – Nanah responde.

/

No dia seguinte todos foram para a empresa, para mais um dia de trabalho, dessa vez Lixo passou a acompanhar Masato de perto. O dia seguia de forma comum, até que uma pequena comoção de vozes alteradas chamou a atenção de todos no escritório.

- VOCÊ NÃO CONSEGUE FAZER NADA DIREITO? – Masato gritava com Hiroshi.

- Me-me desculpe. – Hiroshi respondia olhando para o chão com a voz baixa.

- Você não ter vergonha? Está no segundo ano de estágio e ainda comete esses erros. – Masato batia na cabeça de Hiroshi com algumas folhas de papel.

- Eu-eu sinto muito.

- Eu te dei mais uma chance, depois do que aconteceu e é assim que você retribui? Se continuar assim esse será seu último ano aqui. Imprestável! – Masato joga todas as folhas na direção de Hiroshi e volta para o seu escritório.

Hiroshi se abaixa para recolher as folhas e Akachi vai ajuda-lo, ele percebe que o jovem tremia bastante e escondia o rosto para não mostrar as possíveis lágrimas, porém sem conseguir evita-las, Hiroshi apenas sai apressado do escritório em direção ao banheiro.

- Coitado. – Yuki comenta olhando a cena.

- O que aconteceu? – Nanah pergunta curiosa.

- No ano passado, esse estagiário foi para a equipe de criação, ele fez o design de uma espada que foi usado em um dos jogos da empresa, mas ele não recebeu o crédito. O crédito foi todo para o coordenador da equipe de criação que é cunhado do gerente Masato, o coitado do Hiroshi foi questionar o gerente e isso foi uma cena. – Yuki contava o que lembrava. – Masato falou que o Hiroshi era muito arrogante e ambicioso, que nunca que uma empresa daria créditos a um estagiário, porém para abafar o caso o gerente o deixou permanecer como estagiário, só que transferiu ele para a equipe de finança.

- Eu fiquei sabendo que o Hiroshi tentou ter justiça na internet, expondo a situação toda, porém a empresa abafou tudo e ainda quem saiu como oportunista foi o Hiroshi, ele tentou vaga em outras empresas como desenhista, mas nenhuma aceitou, já que ele estava envolvido nessa controvérsia. Uma pena, mas vai ser muito difícil para ele conseguir trabalhar na área dele, por isso ele continua aqui mesmo sendo na equipe de finança. – Uma funcionária acrescenta.

Nanah apenas escuta com atenção, sem esboçar nenhuma reação, depois que todos voltam as suas mesas e esquecem aquela cena toda, a juíza chama seus demônios de forma discreta, eles se juntam em uma sala vazia e o anjo se junta a eles.

- Vamos aproveitar o momento, eu vou falar com o Hiroshi. – Nanah fala.

- Agora? Aqui no trabalho? – Akachi se surpreende.

- É um bom momento, ele está vulnerável e suas emoções estão mais visíveis, é nossa hora de agir. – Nanah responde.

- Mas isso... – Akachi tenta argumentar, mas é deixado falando sozinho.

Nanah para na frente do banheiro masculino, então usa seus poderes para ficar invisível, ela volta a sua forma original, com orelhas e rabo e entra no banheiro. Os três demônios entram também, porém mantem uma certa distância, Akachi curioso vai atrás, porém King estica a pata impedindo o anjo de se aproximar de Nanah, o anjo entende.

Akachi não tinha intenção de se envolver, ele não concordava em dar atalhos aos seres humanos, por mais que esses poderiam parecer merecedores, o caminho do céu era para os que suportavam tudo e ainda sim se mantinham no caminho do bem e mantinham suas virtudes.

- Hiroshi... – Nanah chama pelo jovem com uma voz calma e doce.

- Quem está aí? – Hiroshi pergunta de dentro de uma cabine.

- Você me chamou aqui, você pediu vingança.

- Hu?

Hiroshi abre de forma cautelosa a porta da cabine do banheiro. Assim que ele abre e vê Nanah na sua frente ele arregala os olhos, surpreso, porém confuso e até duvidoso.

- Você está triste? – Nanah sorria maliciosa e delicada.

- Você... não parece...

- Se você quiser eu posso te ajudar. – Nanah continuava falando de forma calma, porém com o tempo, de forma sutil ia deixando sua aura demoníaca transparecer. – Eu posso realizar sua vingança.

- Você pode? – Hiroshi encara Nanah com determinação.

- Claro que eu posso. – Nanah sorri gentil. – Se você assinar um contrato comigo eu vou mandar imediatamente o alvo da sua vingança para o inferno.

- Eu que...

- Porém, todo contrato tem um preço. – Nanah falava de uma forma meiga. – Se você assinar um contrato comigo, sua alma também irá para o inferno.

Hiroshi arregala os olhos, ele sente seu corpo estremecer e sua respiração falhar. Ele queria a vingança contra Masato com todas as suas forças, ele culpava o gerente por toda a injustiça que estava vivendo, ele chegava até a julgar que o seu gerente merecia ir para o inferno, porém agora ele questionava se devia seguir com essa vingança.

- Então, se eu fizer um contrato com você... – Hiroshi se sentia assustado ao falar com o demônio na sua frente. – Você vai leva-lo imediatamente para o inferno, mas eu também vou?

- Quando sua vida chegar ao fim, de forma natural, sua alma não será julgada, eu irei leva-la direto para o inferno. – Nanah explica de forma gentil. – Esse é o preço do meu contrato.

- Mas o Masato, vai imediatamente? – Nanah responde que sim com a cabeça. – Eu vou ter uma vida longa?

- Isso eu não posso te dizer. A escolha é sua, quer fazer um contrato comigo?

Hiroshi estava assustado, ele tinha acessado aquele site várias vezes, mesmo achando que aquilo era só uma brincadeira, uma lenda urbana, ele sempre relutava em enviar seu pedido de vingança, era como se algo dentro dele o alerta-se que aquilo poderia não ser uma brincadeira.

Porém, o jovem estava no seu limite, as pessoas não entendiam, muitos diziam que ele deveria deixar isso de lado, era só um desenho, era só um trabalho, que ele como estagiário não deveria ser tão ambicioso. Só que para Hiroshi, sua arte ia além de só um desenho ou um trabalho, era o sonho dele, sonho esse que foi roubado pelo seu gerente.

Todos possuem um limite do que podem suportar, para Hiroshi aquele limite já tinha sido ultrapassado. Se não bastasse tudo isso, ele ainda tinha que sofrer essas humilhações no trabalho, tudo isso por que? Porque seu gerente era um ser humano corrupto e desprezível.

Não era justo.

- Eu, eu aceito. – Hiroshi engole seco tomado por uma coragem que nunca tinha tido antes.

- Muito bem então.

Nanah com um sorriso gentil e perverso estala os dedos e aparece na frente de Hiroshi um pergaminho e uma pena, o jovem com o coração disparado e ofegante, ainda de forma amedrontada segura a pena e vê no pergaminho um xis marcado, indicando onde devia assinar.

Ele respira fundo para ter coragem de tomar aquela decisão, então depois de uns segundos de dúvida e hesitação, ele fecha os olhos e assina seu nome no local marcado. Assim que ele assina tanto a pena como o pergaminho desaparecem de sua frente.

- Nosso contrato está feito!

Pela primeira vez, Nanah deixa seu lado demoníaco transparecer com um sorriso largo e olhos que exibiam as próprias chamas do inferno. Naquele momento um frio aterrorizante percorreu o corpo de Hiroshi, ele entendeu o peso de sua decisão, ele percebeu com que tipo de criatura ele tinha feito um contrato.

Ele tinha feito um contrato com um demônio, mas agora não tinha mais como voltar atrás.

Antes que ele pudesse tentar fazer qualquer coisa para mudar aquilo, as luzes do banheiro se apagam e Nanah desaparece em meio a escuridão do ambiente. Logo em seguida as luzes ascendem novamente e Hiroshi se encontrava sozinho no banheiro.

Ele sente seu peito queimar, então ele rapidamente afrouxa a gravata e abre os botões da camisa e percebe um sinal pequeno e discreto tomando forma, a dor era muito forte, como se seu corpo estivesse sendo marcado com ferro em brasa.

No lado esquerdo do seu peito, um símbolo circular foi deixado. Mesmo sem explicação ele entendia que aquela era a marca de seu contrato. Ele iria carregar aquela marca o resto da sua vida, para sempre o lembrar que ao final de sua vida, seu destino estava traçado.

/

Akachi não via com frequência aquela versão de Nanah, a juíza que sempre exibia uma imagem fofa, divertida e até meiga, sempre que levava uma alma para o inferno deixava tudo aquilo de lado e mostrava um pouco do seu verdadeiro eu transparecer.

Mesmo que o juiz soubesse que aquilo era apenas uma fração da realidade, ele conseguia ver no olhar de horror e medo de Hiroshi o quanto aquele sorriso perverso podia ser assustador.

O inferno era assustador e Nanah, sabendo disso, parecia esconder aquilo através de sua aparência fofa, o anjo repudiava aquela postura, para Akachi, Nanah enganava as pessoas. Ela fazia jus a frase: as aparências enganam.

Quando Hiroshi assinou o contrato Akachi suspirou decepcionado, ele tinha feito a escolha dele, por livre e espontânea vontade ele aceitou os termos do contrato e assinou, mesmo quando sua vida chegasse ao fim, o juiz anjo não poderia interferir na decisão que ele tinha tomado, sua alma iria para o inferno sem julgamento.

- Legal, vamos trabalhar. – King sorri satisfeito.

- Eu vou adorar isso. – Andry comenta sorrindo.

- Vai ser divertido. – Lixo demonstrava animação.

Akachi olha para a reação entusiasmada dos três demônios e balança a cabeça em negação, inconformado com tais atitudes o anjo apenas desaparece. Ele não tinha intenção nenhuma de ver com os próprios olhos como aquilo iria acontecer, ele já sabia como iria terminar e não precisava presenciar.

- Ele foi embora? – Andry questiona a ausência do anjo.

- Agora que vai ficar divertido. – Lixo esboça um sorriso maldoso.

- Alguém tem alguma ideia do que vamos fazer? – King questiona os colegas. – Algum acidente?

- Hum... não, é o primeiro caso da Nanah depois de muito tempo, vamos ser mais criativos, mostrar nosso bom trabalho. – Andry fala pensativa. – Que tal a gente assusta-lo até a morte?

- Eu gosto disso. – Lixo comenta.

- Vamos lá, vamos pega-lo no elevador. – King fala animado.

Os três demônios vão atrás de Masato, que seguia sua vida normalmente, sem nem imaginar que sua vida chegaria ao fim em poucos minutos. Com o privilégio de ser gerente, Masato sai de seu escritório um pouco antes da hora do almoço e vai até o elevador para sair do prédio para almoçar.

Tudo parecia tranquilo até o momento que a porta do elevador fechou.

As luzes do elevador apagaram e o elevador foi acelerado para cima e para baixo de forma violenta, fazendo com que Masato tentasse se equilibrar se apoiando nas paredes lisas e geladas do elevador.

- O que está acontecendo? – Masato se questiona assustado.

Ele aperta desesperado o botão para pedir ajuda, mas percebe que nada acontecia.

- Não adianta pedir ajuda. – Uma voz feminina e delicada, da Andry, ecoa no elevador.

- Quem é você? O que pensa que está fazendo? – Masato olha ao redor buscando a origem da voz, sem sucesso.

- Você se acha poderoso nessa empresa, acha que porque tem um cargo alto pode pisar nas pessoas. Agora o jogo virou. – King ameaça rindo.

Novamente o elevador volta a se movimentar rapidamente, porém dentro do elevador uma fumaça começa a tomar conta, fazendo Masato levar o braço no rosto, tentando evitar respirar aquela fumaça.

- Socorro! – Masato grita por ajuda.

- Será que existe alguém que te ajudaria se pudessem te ouvir? Você sempre tratou as pessoas com desprezo, elas agora podem te desprezar. – Lixo fala.

- Socorro, alguém me ajude! – Masato batia na porta do elevador enquanto tossia por causa da fumaça.

O elevador começa a esquentar, Masato sentia que estava dentro de um forno, como se pudesse ver as chamas no chão do elevador em meio a toda aquela fumaça, ele começa a ouvir gritos e lamentos de vozes agonizantes. Desesperado ele buscava, sem êxito, uma forma de sair daquele local.

- Que tal você ver o que te trouxe a essa situação? – Andry sugere.

- O que? – Masato questiona assustado e confuso.

Então em meio chamas que o cercavam dentro do elevador, ele vê os rostos de todas as pessoas que ele um dia tinha feito algum tipo de mal.

“Eu o odeio, ele se acha só porque é gerente.”

“Nojento, ele tenta tirar vantagem das mulheres.”

“Ele é um incompetente.”

“Repulsivo, eu ter que ver ele todo dia no trabalho me dá enjoo.”

“Idiota, acha que será promovido, mas nunca será.”

“Ele acabou com o meu sonho, ele não merece viver.”

Os rostos e as criticas das pessoas o cercavam em meio a fumaça e as chamas, sem ter para onde correr, sem ter para onde fugir, o homem que antes exibia confiança e uma soberba enorme, agora se deixava tomar pelo desespero e agonia.

- Me desculpa, por favor, me desculpa. – Ele ajoelha no chão e junta as mãos implorando perdão em meio a lagrimas.

No meio das chamas, Nanah aparece com um sorriso tranquilo. Masato recua, ficando acuado no canto do elevador, apavorado com a presença da juíza demônio.

- Alma pecadora, sua existência trouxe dor e sofrimento para as pessoas ao seu redor. Seus pecados, desequilibraram a balança. – Nanah fala com muita calma.

- QUEM É VOCÊ? – Masato questiona desesperado.

- Eu vim buscar sua alma pecadora para leva-la para um local de dor, agonia e desespero, onde você irá pagar por todos os seus pecados em meio ao sofrimento eterno. – Nanah sorri com muita satisfação. – Eu sou a juíza demônio.

Em meio a um riso assustador e divertido de Nanah, Masato é consumido pelas chamas, sua alma se esvai de seu corpo, sendo ela levada direto ao inferno, onde será torturada pela eternidade pelos pecados que cometeu em vida. Deixando para trás o corpo sem vida do homem, que seria encontrado no elevador sem nenhum vestígio do que tinha acontecido ali.

Sem saber do que estava acontecendo, Hiroshi apenas escuta em sua mente a voz gentil de Nanah.

- Está feito!

O jovem arregala os olhos e olha ao redor assustado, acreditando que iria encontrar com a figura de Nanah em algum lugar, porém ele apenas percebe uma agitação vindo dos corredores e rapidamente um funcionário entra afobado.

- O gerente Masato... – O funcionário estava ofegante depois de correr até o escritório. – Eu acho que ele teve um infarto ou ataque cardíaco, encontraram ele no elevador.

Todos se surpreendem e ficam chocados com aquela notícia, Hiroshi sente o peso de sua ação, ele leva a mão no peito, no local onde tinha sido marcado sua decisão para nunca lhe fazer esquecer.

Sabendo que não tinha espaço para arrependimento naquele contrato que ele tinha assinado, o jovem apenas suspira. Mesmo que seu destino estivesse traçado, ele não iria se lamentar pelo ocorrido, acreditando que seu gerente tinha encontrado a justiça que merecia.

/

Depois do serviço feito, os quatro voltam para o apartamento tranquilos e realizados por terem feito um trabalho bem sucedido.

No apartamento eles encontram um anjo que esboçava uma fisionomia bastante séria, os três pequenos demônios trocam olhares e entendem que deveriam deixar aquilo para sua chefe, então eles seguem para outro cômodo do apartamento, dando privacidade aos dois juízes.

- Está feliz? – Akachi questiona Nanah irritado.

- Satisfeita. – A juíza responde de forma calma.

- Satisfeita? – O anjo fala inconformado. – Mesmo que o gerente fosse uma pessoa maldosa e tenha desequilibrado a balança, o que o Hiroshi fez para merecer o fim que ele vai ter?

- Ele escolheu por livre e espontânea vontade.

- Por que você ofereceu! – Akachi insiste inconformado.

- Verdade. Se dependesse de você ele teria que conviver angustiado, sendo consumido pelas injustiças do mundo mortal até secar qualquer resquício de esperança e ele sucumbir a dor e ao sofrimento. Eu apenas ofereci uma forma dele, ao menos na vida mortal, ter condições de ser feliz.

- A que preço?!

- Para todo sofrimento que ele estava vivendo em vida o resultado seria, talvez, e apenas talvez, o céu, já que seu julgamento para o céu é bastante rígido. Eu sou o contrário, para toda tranquilidade e felicidade que ele poderá, agora, viver em vida o resultado é o inferno. – Nanah sorri tranquila. – Não me olhe assim Akachi, você sempre soube o que eu fazia, não é novidade.

- Eu sei, só não consigo entender. – Akachi suspira.

- O que você não consegue entender?

- Por que você faz isso? – O anjo questiona confuso.

- Hum... Porque eu acho divertido. – Nanah sorri charmosa.

- Divertido? – Akachi questiona incrédulo.

- Sim, a eternidade pode ser bem chata, imagina eu ter que conviver só com você e o Imamu o tempo todo? Eu sou a juíza demônio, eu condeno as pessoas ao inferno, não preciso eu viver um inferno. Então eu procurei uma maneira de me divertir. – Ela dá de ombros.

- Estou com dificuldade de visualizar a diversão.

- É que você não viu o olhar de medo e desespero do Masato. – Nanah ri. – Sabe o que mais eu acho divertido?

- O que? – Akachi cruza os braços curioso.

- Ver como o Hiroshi vai viver a vida dele depois de hoje. – Nanah explica pensativa. – Não importa se ele vai ser uma boa ou má pessoa, não importa mais a generosidade, nem as virtudes que ele venha a praticar em vida, ele sabe que no final vai para o inferno. É divertido observar como ele vai viver o resto da vida dele.

- Você tem uma maneira de diversão bastante sádica.

Nanah apenas sorri de forma fofa para o anjo, que apenas balança a cabeça em negação.

Akachi não concordava com as coisas que Nanah fazia, porém ele não podia fazer nada a respeito, já que ela sempre respeitava o livre arbítrio do ser mortal. Porém, ele ainda sentia que tinha algo que Nanah não contava, era como se ela camuflasse alguma coisa no meio daquilo tudo.

O juiz anjo não sabia explicar aquela sensação, desde que tinha se tornado juiz ele foi orientado pelo seu mestre, o Arcanjo Miguel, a desconfiar de Nanah. A juíza demônio sempre evitava responder as perguntas de Akachi sobre o que tinha acontecido no primeiro tribunal, essa relutância em apenas ser sincera, motivou e incentivou Akachi a manter a desconfiança com a juíza.

Com o passar do tempo, Akachi passou a desconfiar tanto de Nanah, que qualquer coisa que ela falava ou fazia ele tinha um pé atrás, teve um momento que o juiz achou que era apenas implicância da parte dele, porém quando Nanah começou a trabalhar com vingança no mundo mortal ele voltou a desconfiar das atitudes da juíza.

Akachi podia não saber como, mas ele tinha certeza que Nanah escondia alguma coisa por trás de suas ações. Foi por isso que ele tinha decidido se aproximar e ver de perto como ela trabalhava nas suas vinganças, podia ser desconfortável para ele assistir de perto, mas ele não iria desistir.

Ele estava decidido a descobrir o que tanto a juíza demônio escondia.